Rádio Litoral Sul FM 95.9 - Tá na litoral, tá legal!
Notícias
Notícias→Paranaguá →Do litoral do Paraná à África: a parnanguara que leva esperança e transforma vidas em Moçambique
Imagem: Divulgação
Do litoral do Paraná à África: a parnanguara que leva esperança e transforma vidas em Moçambique
O projeto social fundado por Franciely Rodrigues é fruto de um chamado missionário, e de uma decisão corajosa de deixar o Brasil para viver em um dos lugares mais vulneráveis do planeta.
Por Karen Kleinhans
29 de Outubro de 2025 às 10:29
Em 2019, um dos piores ciclones da história da África Austral devastou 90% da cidade da Beira, em Moçambique. No meio da tragédia, nascia também uma semente de esperança: o projeto social fundado por Franciely Rodrigues e seu esposo, fruto de um chamado missionário e de uma decisão corajosa de deixar o Brasil para viver em um dos lugares mais vulneráveis do planeta.
A história, no entanto, começou antes, em 2014, quando o esposo de Franciely, movido pela fé, passou a visitar Moçambique anualmente. Em 2016, ela o acompanhou pela primeira vez. “Desde então, nunca mais fui a mesma pessoa”, conta. A experiência transformadora os levou a passar o ano seguinte em oração, buscando uma resposta clara de Deus sobre a mudança definitiva.
Foi nesse período que Franciely teve um sonho que mudaria tudo: uma criança negra pedia ajuda. “Quando visitamos o vilarejo pela primeira vez, encontrei a mesma criança do meu sonho. Entendi naquele momento que aquele era o nosso lugar”, relembra emocionada.
Em 2018, com coragem e fé, o casal vendeu tudo o que tinha, comprou as passagens e embarcou para a África com os dois filhos: Nicolas e Rafaela, então com 6 e 11 anos.
O início foi desafiador. Embaixo de uma árvore de manga, o casal reunia 45 crianças. As mães da comunidade preparavam a comida enquanto Franciely dava aulas e ensinava canções. “Foi um começo simples, mas cheio de amor. Aos poucos, as pessoas foram acreditando no que fazíamos”, conta.
Hoje, o projeto que atua no vilarejo de Nhangau, na cidade da Beira, atende 130 crianças e conta com uma equipe de 10 colaboradores locais. O principal foco é o programa de nutrição, já que cerca de 70% das crianças fazem apenas uma refeição completa por dia, geralmente no próprio centro. Além da alimentação, as crianças recebem ensino pré-escolar, educação religiosa e acompanhamento social.
Para Franciely, o momento mais marcante é ver a transformação das crianças. “Muitas chegam desnutridas, com problemas de saúde e comportamento. Depois de três meses, parecem outras crianças, cheias de energia, rindo, brincando, aprendendo. É isso que nos move todos os dias.”
A rotina é simples, mas cheia de propósito: o dia começa às 7h30 com momentos de meditação e relaxamento, seguidos por aulas pedagógicas, brincadeiras e o tão esperado almoço, para muitos, a principal refeição do dia.
O projeto se mantém por meio de apadrinhamento solidário, um grupo de “padrinhos abençoadores”, como Franciely os chama, que contribuem mensalmente com R$ 50. A soma desses valores garante alimentação, materiais e manutenção das atividades. Igrejas e parceiros também ajudam a sustentar o trabalho.
“Aprendi que solidariedade é mais do que doar algo ou fazer voluntariado aos fins de semana. É enxergar a necessidade do outro e fazer tudo o que estiver ao seu alcance para supri-la”, afirma.
Franciely confessa que a vida na África mudou completamente sua forma de enxergar o Brasil e o que significa viver com propósito. “Quando volto ao Brasil, não consigo deixar de pensar o quanto somos abençoados. Aqui há muita escassez, mas também há muita fé, esperança e alegria em cada pequeno gesto.”
E deixa um recado a quem sonha em ajudar, mas ainda não deu o primeiro passo:
“Comece com o que você tem. O pouco que você considera pode ser o suficiente para mudar a vida de alguém. Basta se mover em direção ao necessitado.”
Hoje, o projeto em Nhangau é um símbolo de esperança, fé e amor em ação: uma prova viva de que o bem não tem fronteiras, e que uma decisão movida por compaixão pode transformar comunidades inteiras.