O primeiro dia da Semana da Consciência Negra de Matinhos, instituída por lei municipal desde 2017, na segunda-feira, 17, foi marcado por reflexão e celebração cultural. O evento, realizado na Casa de Cultura de Matinhos, teve como destaque uma vibrante roda de capoeira conduzida pelo renomado Mestre Bacico (Geraldo Ferreira da Silva) e pelo Grupo Zoeira Nagô.
A atividade reuniu alunos, familiares e moradores da cidade para discutir a realidade enfrentada pela população negra no Brasil. O Mestre Lontra e seus alunos também participaram da ação, que transformou o espaço cultural em um ambiente de união e resistência.
Consciência Negra como luta por direitos
Antes do início da roda, Mestre Bacico, atual presidente da Federação Paranaense de Capoeira, destacou o novo momento vivido pelo município na abordagem sobre consciência racial, ressaltando a necessidade de avançar da celebração para a reivindicação de direitos.
“Hoje estamos vivendo um novo momento nessa Semana da Consciência Negra, onde várias apresentações, várias palestras irão ocorrer, com o intuito de conscientização da população matinhense. Quando se fala em Consciência Negra, está se falando na conscientização do povo preto com relação aos seus direitos: direito à educação, direito à saúde, à segurança pública, segurança alimentar, assistência social”, afirmou.
O mestre reforçou ainda a importância da união entre negros e não negros: “E também conscientizar as pessoas não negras que o que nos separa é apenas a cor da pele", disse.
Foto: Prefeitura de Matinhos
A força da capoeira no litoral
A escolha de encerrar o dia com capoeira destaca o papel da arte-luta como ferramenta de transformação social. Mestre Bacico realiza trabalhos com capoeira em Matinhos desde mil novecentos e oitenta e oito, sendo referência na formação cultural e cidadã de gerações no litoral paranaense.
Reconhecido por defender a capoeira como prática inclusiva, ele reforça que a arte é “democrática” e acessível “para qualquer pessoa, principalmente as pessoas da periferia”. Citando Mestre Pastinha, lembra: “ela é água no côncavo das mãos”, capaz de ocupar qualquer espaço e realidade social.
Além de presidir a Federação Paranaense de Capoeira, Mestre Bacico integra o Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial (CONSEPIR), contribuindo na articulação de políticas públicas voltadas à proteção da capoeira como Patrimônio Cultural do Brasil.
Fundado por ele em mil novecentos e oitenta e oito, o Grupo Zoeira Nagô consolidou-se como associação em mil novecentos e noventa e nove e mantém forte atuação social no Bairro Vila Nova, levando a capoeira às comunidades carentes do município e a outras cidades do Paraná.
A roda conduzida pelo grupo marcou o encerramento das atividades do primeiro dia, simbolizando disciplina, ancestralidade e união.
Segundo dia destaca cultura africana, história e ancestralidade
A Semana da Consciência Negra de Matinhos seguiu com sua programação na terça-feira, 18, com atividades voltadas ao conhecimento e à valorização da história africana. O objetivo foi apresentar ao público a riqueza das civilizações e expressões culturais que antecedem o período da escravidão e da colonização europeia.
Arte, fé e raízes com Abdoulaye Dit GoumbSow
O segundo dia teve como destaque a palestra “Cultura Africana”, ministrada pelo artista plástico e colecionador senegalês Abdoulaye Dit GoumbSow. Morador de Matinhos há vinte e nove anos, ele compartilhou sua vivência pessoal e cultural, oferecendo ao público um mergulho nas tradições da África Ocidental.
Natural do Senegal, Abdoulaye pertence a uma etnia de artesãos especializados na escultura de máscaras de madeira, elemento de forte significado religioso. Ele explicou que cada máscara é habitada por um espírito mentor, contando histórias de fé e ancestralidade.
Foto: Prefeitura de Matinhos
Ao relatar sua chegada ao Brasil, destacou o potencial humano e cultural do país: “um país em que se plantando as pessoas podem fazer uma colheita”, disse, elogiando a bondade dos brasileiros. Ele acrescentou que sua chegada à Bahia foi marcante: “senti que estava em casa por causa de muitos hábitos parecidos com os da África”, reforçando as conexões entre as duas culturas.
Resgate histórico das civilizações africanas
Na sequência, o professor de História Paulo Augusto Gonçalves apresentou a palestra “África Pré-Moderna”. O historiador destacou a importância das grandes civilizações africanas anteriores à colonização europeia, ressaltando o protagonismo do continente no desenvolvimento cultural, econômico e político da humanidade. A atividade buscou combater visões estereotipadas, reforçando que a África foi, e continua sendo, um território de grande complexidade, inovação e soberania.
Programação segue com show nacional do Olodum
A Semana da Consciência Negra de Matinhos segue com atividades culturais, formativas e artísticas ao longo da semana, culminando no show nacional da banda baiana Olodum, no sábado, 22, às 21h, uma das principais atrações do evento. A apresentação deve consolidar Matinhos como referência regional nas celebrações que destacam a história, a cultura e a identidade negra no litoral paranaense.

Com informações da Prefeitura de Matinhos
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